Uma das minhas primeiras palavras foi “POR QUÊ?”. Minha mãe brinca me dizendo que antes mesmo de eu falar “MAMÃE” ou “PAPAI”, eu perguntei. Acho que eu tinha aquele espanto natural que se sente, quando se entra no mundo. Quando nasci, não chorei. Até pensaram que eu estava morto. Deram-me três violentos tapas na bunda para ver a minha reação. Forçaram a amizade. Foi a primeira mãozinha que a vida me deu. Tenho a tatuagem até hoje no derrière. Nasci numa manhã de setembro é bom que conste. Tenho 27 anos. A bem da verdade há muito tempo deixei de perguntar. Minhas perguntas são um arremedo de pergunta, diria mais, são pura retórica. Tornei-me a metáfora da linha reta. Habituei-me a solicitude: porque julgava que quando alguém lhe sorrir, involuntariamente você deve sorrir de volta. Constatei que a vida em sociedade é como uma espécie de teatro: há a platéia, as palmas, a elegia, as lágrimas. Há os gêneros: comédia, drama e tragédia.
Por muito tempo não achei graça alguma em tudo que vi. Vivia porque era necessário viver. Se você ensaiar a sua vida direitinho, com o tempo você acaba acreditando que ela existe. Foi assim que eu fiz. Há uma máscara pela qual tenho verdadeira estima: a da alegria. Você pode utilizá-la em todas as ocasiões: o riso forjado é a metáfora das pessoas felizes. Às vezes eu queria morrer. Mas sempre me ocorria, que se eu morresse não teria mais a mim. Então eu percebia que já não queria a morte. Descobri que a gente pode mentir facilmente para outras pessoas, porque a mentira é antes de tudo uma construção social. Isso não me impediu de constatar outra coisa: que é impossível mentir para si mesmo, às 23h, sob os lençóis e com as luzes apagadas. No confronto consigo mesmo você sempre capitula.
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